É impensável imaginar o mundo tal como o sentimos sem a
                                                MATEMÁTICA. Se tal fosse possível, o nosso posicionamento
                                                cultural, científico e tecnológico seria muito diferente e
                                                certamente
                                                pior. O obscurantismo e a irracionalidade seriam predominantes, a
                                                ciência e a tecnologia muito limitadas e a nossa capacidade de
                                                atacar
                                                os problemas seria essencialmente emocional, assente em crenças
                                                e sem lógica. Parece-me lícito afirmar que, ao longo dos séculos, o
                                                desenvolvimento da MATEMÁTICA tem contribuído para um
                                                MUNDO MELHOR, ou seja, um mundo culturalmente,
                                                cientificamente e tecnologicamente mais desenvolvido.
                                            Galileu Galilei (1564-1642) referiu que apenas se pode entender a
                                                Natureza quando se aprende a sua linguagem e os seus sinais; mas
                                                essa linguagem é MATEMÁTICA e esses sinais são figuras
                                                matemáticas. Por sua vez, o filósofo Immanuel Kant (1724-1804)
                                                afirmou que em qualquer das ciências naturais a substância
                                                    científica genuína é proporcional à matemática que apresenta. Sem
                                                    MATEMÁTICA a Astronomia e a Física dos nossos dias seriam
                                                    impossíveis; os ramos teóricos destas ciências dissolvem-se
                                                    virtualmente em MATEMÁTICA.
                                             De acordo com o matemático David Hilbert (1862-1943), a
                                                MATEMÁTICA é a ferramenta intermediária entre a teoria e a prática,
                                                entre pensamento e observação.
                                             As origens da MATEMATICA perdem-se no tempo e nos primórdios
                                                da humanidade. Os vestígios de formas e números são pré-históricos.
                                                As
                                                aplicações da aritmética no controlo de sistemas de
                                                irrigação, entre outros, estão registadas como práticas de alguns
                                                povos e culturas que, entre 3000 e 525 a.C., se fixaram ao longo dos
                                                grandes rios da África e da Ásia (Nilo, Tigre e Eufrates). Os
                                                babilônios, que viveram entre 2000 a.C. e 1600 a.C., dividiram o
                                                círculo em 360 partes e constataram que uma circunferência tinha o
                                                triplo do seu diâmetro, o que correspondia a atribuir a π o valor 3.
                                                Neste período, a MATEMÁTICA já não se reduzia à aritmética, incluía
                                                também expressões algébricas que formulavam problemas cujas
                                                soluções procuravam obter. A MATEMÁTICA, no sentido em que
                                                atualmente a conhecemos, onde a demonstração desempenha um
                                                papel fundamental, teve o seu início no sexto século a.C., com a
                                                geometria de Tales de Mileto, um dos sete sábios da Grécia Antiga
                                                (segundo o filósofo e matemático Platão, fundador da Academia de
                                                Atenas, estes sete sábios são Tales de Mileto, Pítaco, Bias de
                                                Priene, Sólon, Cleóbulo de Lindos, Míson de Queneia e Quilão de
                                                Esparta). Os Elementos de Euclides que consistem num tratado
                                                matemático escrito em 13 livros por volta de 300 a.C., dominaram os
                                                primeiros séculos da MATEMÁTICA grega. Este tratado introduz a
                                                primeira abordagem axiomática de uma teoria, a geometria
                                                euclidiana, e de certo modo obscureceu tudo o que antes dele se
                                                produziu. David Hilbert dizia: pode medir-se a importância de um
                                                    trabalho científico pelo número de publicações que ele tornou
                                                    supérfluas.
                                            Apesar dos inúmeros avanços da MATEMÁTICA, conseguidos até
                                                ao final do século XVII, é nessa altura que ela atinge o seu patamar
                                                superior com o aparecimento do Cálculo Infinitesimal introduzido de
                                                forma independente pelos matemáticos Isac Newton (1642-1727) de
                                                nacionalidade britânica e Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716) de
                                                nacionalidade alemã, dando início à MATEMÁTICA dos tempos
                                                modernos que desde então tem conhecido um desenvolvimento
                                                esmagador com implicações científicas notáveis. 
                                            Durante os últimos séculos, a MATEMÁTICA subdividiu-se em várias
                                                subáreas que se desenvolveram autonomamente com elevado grau
                                                de especialização, entre as quais podemos destacar a Álgebra,
                                                Análise, Combinatória, Geometria, Lógica e Teoria dos Números,
                                                entre muitas outras. Estas subáreas deram à MATEMÁTICA uma
                                                estrutura complexa com fronteiras difíceis de traçar e relações por
                                                vezes muito surpreendentes. Consta que o matemático e astrónomo
                                                alemão Carl Friedrich Gauss (1777-1855) foi a última pessoa a
                                                conhecer toda a MATEMÁTICA do seu tempo. 
                                            Apesar do matemáticfo britânico Godfrey Hardy (1877-1947) ter
                                                escrito: nenhuma das minhas descobertas fez, ou poderá fazer,
                                                    direta ou indiretamente, para o bem ou para o mal, a menor diferença
                                                    para o mundo, numa carta que em 1908 enviou ao American Journal
                                                of Science, com uma abordagem algébrica muito simples,
                                                demonstrou que havia um erro num artigo sobre a teoria genética de
                                                Mendel (segundo a qual os seres vivos herdam o gene dominante)
                                                versus a teoria da seleção natural de Darwin (de acordo com a qual
                                                se uma caraterística é benéfica para a sobrevivência e procriação de
                                                um ser vivo, então ela acaba por prevalecer), introduzindo um
                                                princípio de equilíbrio hereditário. No mesmo ano, o médico alemão
                                                Wilhelm Weinberg chegou a um princípio semelhante que acabou por
                                                se designar princípio de Hardy-Weinberg.
                                            Com efeito, a MATEMÁTICA tem-se revelado muito poderosa no
                                                estudo e compreensão da natureza. Por exemplo, Fibonacci, também
                                                conhecido por Leonardo de Pisa, numa publicação de 1202 com o
                                                título Liber abaci, introduziu a sequência (F0,
                                                F1, …,
                                                Fj-2,
                                                Fj-1,
                                                Fj, … ),
                                                conhecida por sequência de Fibonacci, onde F0=0 e
                                                F1=1 e os
                                                restantes termos são a soma dos dois anteriores. Transformando
                                                estes números em lados de quadrados geométricos, define-se uma
                                                espiral (conhecida por espiral de Fibonacci) que determina um
                                                padrão geométrico existente em vários animais e plantas, como são
                                                o caso dos abacaxis, girassóis, conchas, etc.
                                            
                                                
                                             
                                            O físico alemão Albert Einstein (1879-1955) escreveu: como é
                                                possível que a matemática, um fruto do pensamento, se encaixe tão
                                                bem à realidade física? Ou seja, a MATEMÁTICA parece não ser
                                                apenas a linguagem da Natureza, mais do que isso, tem-se revelado
                                                como a linguagem do Universo. No entanto, através dela, ainda não
                                                foi possível explicar as quatro forças que unificam o cosmus
                                                (gravidade, eletromagnetismo e as forças nucleares fortes e fracas,
                                                todas tão distintas), bem como a surpreendente coleção das
                                                partículas subatómicas. 
                                            Não se sabe se a MATEMÁTICA é uma criação humana ou é apenas
                                                descoberta (ou seja, sempre existiu e nós apenas a vamos
                                                descobrindo). Se for uma criação humana, a probabilidade de uma
                                                civilização extraterrestre criar a mesma MATEMÁTICA é
                                                extremamente diminuta e por isso muito dificilmente poderia ter uma
                                                perceção do Universo idêntica à nossa. Como consequência, seria
                                                praticamente impossível detetá-la ou serem eles a detetarem-nos a
                                                nós.
                                            Termino estas notas com uma referência ao matemático português
                                                Francisco Gomes Teixeira (1851-1933) que se formou na
                                                Universidade de Coimbra, onde também se doutorou em 1875 e em
                                                1880 assumiu as funções de Professor Catedrático. Quatro anos
                                                mais tarde, pediu a transferência para a Academia Politécnica do
                                                Porto, percursora das atuais Faculdades de Ciências e de
                                                Engenharia da Universidade do Porto, da qual em 1911 veio a ser o
                                                primeiro Reitor. Segundo Gomes Teixeira, um trabalho matemático
                                                    é, para quem o sabe ler, o mesmo que um trecho musical para quem
                                                    o sabe ouvir, um quadro para quem o sabe ver, uma ode para quem
                                                    a sabe sentir. Trata-se de uma visão alternativamente
                                                inspiradora e
                                                igualmente motivadora para se continuar a estudar e investigar
                                                (criar
                                                    ou descobrir) MATEMATICA e para se poder afirmar que a
                                                MATEMÁTICA indubitavelmente tem contribuído e certamente
                                                continuará a contribuir para um MUNDO MELHOR.
                                            
                                            Bibliografia
                                                
 Howard Eves, Introdução à História da Matemática, 2ª Edição,
                                                Editora da
                                                Universidade Federal de Campinas, Campinas 1997.
                                                
                                                Ioan James. Remarkable Mathematicians – from Euler to von Neuman,
                                                Cambridge University Press, Cambridge UK 2004 (reprint).
                                                
Michio Kaku, Hiperespaço – uma odisseia científica através
                                                de
                                                universos
                                                paralelos, de dobras temporais e da 10ª dimensão, Editorial
                                                Bizâncio, Lisboa
                                                2016.